A Docência Bíblica e o Mestre

Por Paulo Dib

A docência ou o ensino, sempre estiveram presentes ao longo da narrativa bíblica. De certa forma isso é algo natural se levarmos em conta que o objetivo maior da Palavra é a revelação de Deus aos homens.

A Bíblia é um livro repleto de ensinamentos, do princípio ao fim. Ensinamentos sobre Deus, ensinamentos sobre como vivermos uma vida santa, ensinamentos a respeito de Jesus Cristo, nosso salvador e ensinamentos de como vivermos de maneira sábia e agradável a Deus.

Com tantos ensinamentos fez-se necessário a presença de “mestres” que, capacitados por Deus, ensinassem ao povo o conteúdo de toda aquela revelação.

Muitos são os exemplos de mestres no ensino da Palavra, como Esdras, Neemias, Fariseus contemporâneos a Esdras, alguns rabinos nos tempos de Jesus e, na minha opinião, o maior mestre no ensino de que temos notícia, o Apóstolo Paulo. Quando digo o maior mestre é claro que não estou levando em consideração o Senhor Jesus, o Mestre dos mestres, me atenho aos homens comuns que foram usados por Deus no ensino de Sua Palavra.

A princípio para alguns pode parecer estranho eu mencionar os Fariseus como bom exemplo de ensino. A imagem formada a respeito de um fariseu é sempre daquele indivíduo extremamente religioso e frio dos tempos de Jesus. Porém, o que muitos não sabem, é que os Fariseus foram sim grandes mestres e foram de suma importância para a vinda do Messias.

Foram os Fariseus, a partir da época de Esdras e da construção da primeira sinagoga, que foram os responsáveis por fazer cópias dos livros sagrados e difundir o ensino nas sinagogas. Todos os sábados o povo se dirigia às sinagogas para ser instruído, ouvir sobre a lei e sobre as profecias de Deus para Israel.

Durante aproximadamente 400 anos foi assim em Israel, de maneira que, até a vinda do Messias, o povo já conhecia muito bem a Palavra e as profecias a Seu respeito. Se não fosse o ensino dos Fariseus, por certo o povo não saberia a respeito do Messias, não saberia que ele haveria de vir, nem mesmo saberia qual seria o seu papel redentor.

É claro que nos dias de Jesus a maioria dos fariseus havia se tornado apenas um grupo de homens religiosos, ultraconservadores e que impunham jugos religiosos sobre o povo, no entanto, não podemos jamais desprezar a sua importância no ensino da Palavra.

Esdras era um fariseu e foi o principal responsável pela formação do Canon do Antigo Testamento, bem como da construção da primeira sinagoga em Jerusalém.

Neemias fez erigir os muros de Jerusalém e realizou importantes reformas religiosas exercendo papel fundamental na fixação da lei mosaica. Neemias é identificado, em um hagadá, com Zerubabel, nome considerado como um epíteto de Neemias, e indicativo de que ele teria nascido na Babilônia ("Zera' + Babel"; Sanh. 38a). Juntamente com Esdras ele marca a primavera da história nacional do Judaísmo (Cant. R. ii. 12). Um certo mishná teria sido declarado pelas autoridades rabínicas como originário da escola de Neemias (Shab. 123b).

Paulo, porém, foi o mais notável mestre. A começar por sua educação em duas culturas (grega e judaica). Recebera também ensino rabínico e, conforme a Palavra mesmo nos mostra, foi ensinado “aos pés de Gamaliel”. Gamaliel, para quem não sabe, era um dos maiores mestres da Torá daqueles dias, líder dentre as autoridades do Sinédrio.

Estar aos pés de Gamaliel, ou seja, ser um discípulo deste Raban, não era para qualquer um. O candidato a esse discipulado, de antemão já deveria conhecer muito bem a Torá.

A esta altura, caro leitor, você deve estar indagando: “O que envolvia ser um discípulo deste mestre?”. Pois bem, referente a esse treinamento Dov Zlotnick, professor titular do Seminário Teológico Judeu da América, escreveu: “A exatidão da lei oral, portanto, a sua confiabilidade, depende quase que inteiramente do relacionamento entre mestre e discípulo: do cuidado do mestre no ensino da Lei e da presteza do discípulo em aprendê-la… Por isso, instava-se com os discípulos a sentar-se aos pés dos eruditos… ‘e beber as suas palavras com sede’.” – Avot 1:4, Mishnah.

O apóstolo Paulo recebeu, portanto, uma ótima educação e, essa educação aliada ao dom de ensino que Deus havia concedido a esse homem, fizeram dele, depois do Senhor Jesus, o maior responsável pela propagação do evangelho. Suas epístolas formam uma seção fundamental do Novo Testamento e servem de base até os dias de hoje para a doutrina da Igreja.

De maneira que o exercício do ministério de mestre ou doutor é de suma importância para a doutrinação da Igreja de Cristo e para a edificação de todo o corpo.

Infelizmente, nos dias de hoje, pouco se vê dentro das igrejas pessoas que realmente exerçam este tão honrado ministério. Mesmo aqueles que têm este dom muitas vezes o relegam a um segundo plano e acabam por almejar outros cargos/títulos de maior notoriedade entre os homens, como por exemplo, Pastor, Apóstolo, Missionário ou Evangelista. A própria Igreja muitas vezes não reconhece tais mestres ou não lhes confere a atenção e honras devidas.

O ministério quíntuplo (Ef 4.11) deve ser exercido em sua totalidade, pois o Corpo necessita de igual maneira dos Apóstolos, dos Profetas, dos Evangelistas, dos Pastores e também dos Mestres. Cada um exerce papéis importantes e distintos dentro do corpo. Por mais que um pastor possa ser conhecedor da Palavra e dedicado ao seu estudo, o seu principal ofício é o apascento das ovelhas. Da mesma forma os Apóstolos, Profetas e Evangelistas possuem outras atribuições primevas em seus ministérios. Somente o Mestre tem por principal atribuição o ensino.

Pela excelência do dom, ninguém ensina da maneira que um Mestre faz. Ninguém consegue ensinar seus discípulos com tanta facilidade quanto o Mestre. É algo inerente a esse ministério a facilidade para ensinar e o carisma para cativar seus alunos a ter sede de aprender.

Para encerrar esse breve post, deixo aqui uma oração, para que Deus levante cada vez mais Mestres dentro da Igreja. Homens e mulheres que não se importam com notoriedade ou reconhecimento humano, mas se importam em fazer a vontade do Pai e têm prazer em ensinar, em compartilhar aquilo que de graça receberam. Oro também para que a Igreja de Cristo abra os seus olhos e aprenda a reconhecer e honrar seus mestres, pois o ensino depende deles.

Quem sou eu

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Cristão Protestante. Graduado em Tecnologia em Processamento de Dados pela FATEC (Unesp). Hoje trabalho como consultor em negócios imobiliários. Pós-graduado em Especialização em Estudos Teológicos, pela Mackenzie (CPAJ). Falo Inglês muito bem e espanhol porcamente. Sou muito bem casado e tenho dois filhos maravilhosos.

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