Por que fui reformar-me?



Por Paulo Dib

Por que fui reformar-me? Será que era necessário?

Bem, se pelo menos desde a Reforma para a igreja valeu o lema protestante Ecclesia reformata et semper reformanda est (Igreja reformada está sempre se reformando), certamente que tal princípio deve se aplicar às ovelhas.

Mas ir ou estar atrelado à uma igreja protestante reformada não é voltar no tempo ou ficar preso ao passado enquanto o “novo de Deus” está disponível em igrejas evangélicas ditas carismáticas?

De certo que não. Sobre o novo descobri que muitas vezes o “novo” é o velho. A novidade está radicada há séculos atrás. Pode parecer paradoxal demais, mas, no caso do Evangelho e da fé cristã (que possui mais de 2000 anos), é a mais pura verdade.

A fé cristã está alicerçada em bases antigas, desde os ensinamentos dados por Jesus há 2 milênios na Palestina, seguindo pelo trabalho apostólico, estudos e apologéticas dos Pais da Igreja, credos e confissões de fé, o labor de teólogos e apologistas do passado, e a própria reforma protestante. Enfim, o cristianismo não é novo, já temos 2000 anos de uma fé histórica e consolidada.

A questão é que nesse pós-modernismo dos nossos tempos, tudo o que é novo é melhor e o que é antigo deve ser descartado. Criou-se o estigma de sempre “se reinventar” a fé cristã. Obras antigas são vistas com preconceito e são postas de lado sem o menor pudor ou análise crítica. Simplesmente parte-se do pressuposto (falacioso) de que aquilo que é novo é melhor, sempre e invariavelmente.

E nesse afã de sempre encontrar o “novo” de Deus, muitos acabam enveredando por caminhos nem sempre cristãos e bíblicos. Doutrinas caras ao cristianismo são irresponsavelmente ignoradas, dando-se espaço a ensinos que não se aprumam com a doutrina bíblica sadia.

A chamada “Teologia da Prosperidade” não se alinha com as boas novas anunciadas por Jesus Cristo, tão pouco com os ensinos apostólicos ou paulinos, ou de qualquer outra era da cristandade até o início do século XX. Nesse mesmo “saco” coloco a Teologia da Confissão Positiva e o Triunfalismo Evangélico (a vitória sempre ao alcance dos ungidos que fazem a coisa certa), onde qualquer frase dita contendo ao seu final “em nome de Jesus”, torna-se uma “poderosa oração” para realizar os desejos do coração do homem.

O processo da minha reforma pessoal foi paulatino, ao longo de pelo menos 02 anos. E nesse processo reconheço a soberana graça de Deus a me guiar e moldar meu coração.

Já havia algumas coisas no evangelicalismo moderno com as quais eu não concordava há um bom tempo. Após ter um contato mais aprofundado com as doutrinas da graça, foi como se algumas escamas caíssem de meus olhos e eu pudesse enxergar que até então eu tive uma visão deficitária do cristianismo como um todo.

Outro ponto que me incomodava no evangelicalismo era a pretensa autonomia humana ou o desejo de liberdade a qualquer custo (leia-se independência), beirando ao Deísmo, onde o homem autoriza ou não a ação de Deus. Tal postura fere o princípio da soberania de Deus e ferir a soberania divina é algo inconcebível.

O que me atraiu na fé reformada foi a expressão de uma fé simples, despretensiosa, dependente da graça. Colocando o homem no seu devido lugar e exaltando ao Senhor. Reconhecendo claramente que o homem encontra-se caído e totalmente depravado, incapaz de realizar qualquer bem por si mesmo (Rm 3.10-12).

A fé reformada não é isenta de falhas, e também não possui todas as respostas, no entanto, ao meu ver, é a expressão de fé cristã mais honesta, mais biblicamente orientada, humilde e sem pretensões grandiosas e triunfalistas.

Sem modismos, encara a fé como ela realmente deve ser, cristocêntrica. Exalta prioritariamente a Deus. Reconhece a verdadeira condição do homem, que não é de um semi-deus destinado ao sucesso como algumas vertentes anunciam, nem de alguém que foi meramente afetado pelo pecado, mas como alguém que se encontra radicalmente morto, depravado, corrompido em todos os âmbitos pelo pecado e impossibilitado de buscar a Deus (Ef 2.1-3, Rm 3.10-11, Rm 5.8-10, 1Co 2.14).

Há ainda na fé reformada um enorme senso de temor e gratidão pelo FAVOR TOTALMENTE IMERECIDO da salvação, ao invés de petições sem fim. Salvação esta que repousa seguramente nas mãos do seu executor, Jesus Cristo (Jo 10.28-29).

A fé reformada é uma fé confessional, que não está deslocada na história da Igreja. Não que as confissões de fé, credos e concílios realizados pela igreja ao longo dos séculos sejam palavra revelada e inerrante tal qual a Bíblia, no entanto funcionam como um esteio, um arrimo e limite para a Igreja. As confissões e credos contém doutrinas que já foram e muito estudadas e debatidas pelos antigos mestres desde a patrística. Não é algo que pode-se mudar simplesmente conforme a conveniência ou mediante a uma “nova revelação”. Neste quesito fico com o conselho do pastor Mark Driscoll: “leia os antigos, prefira os livros antigos”.

Reformei-me, com a graça de Cristo, e abracei com toda força os pilares antigos das verdades da Palavra de Deus que foram afirmadas pela igreja primitiva e reavivadas pela Reforma Protestante. Verdades bíblicas tais como os 5 Solas: Sola Fide (justificação somente pela fé), Sola Gratia (salvação somente pela graça de Deus), Solus Christus (Cristo somente, o Salvador dos pecadores), Sola Scriptura (somente a Escritura, como base de fé e prática) e Soli Deo Gloria (a Deus somente a glória).  

Por fim, encerro salientando que este texto é apenas o relato de algo que aconteceu comigo (minha reforma pessoal), bem como a externação de meu posicionamento em relação ao evangelicalismo moderno como um todo. 

 Soli Deo Gloria!

Quem sou eu

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Cristão Protestante. Graduado em Tecnologia em Processamento de Dados pela FATEC (Unesp). Hoje trabalho como consultor em negócios imobiliários. Pós-graduado em Especialização em Estudos Teológicos, pela Mackenzie (CPAJ). Falo Inglês muito bem e espanhol porcamente. Sou muito bem casado e tenho dois filhos maravilhosos.

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