Por Paulo Dib
A
reforma protestante, sem sombra de dúvidas, legou à cristandade uma
série de benesses, entre elas a busca pelo retorno da catolicidade
da igreja (em toda a plenitude do termo católico), e o
reconhecimento da grandeza da graça de Deus em salvar o homem.
Uma
das questões primordiais no âmbito protestante é sua análise
bíblica quanto à condição humana após a queda, muito bem
formulada na doutrina da Depravação Total*, a qual acertadamente
define o homem como corrupto e depravado por natureza, separado de
Deus e incapaz de produzir qualquer bem verdadeiro apartado desse
Deus.
No
entanto, muitos setores da Igreja de Cristo, imersos no pós
modernismo de nossos tempos, têm negligenciado esse importante
aspecto da natureza humana decaída. E, num antropocentrismo sem
precedentes, têm deturpado o Evangelho e dado ao homem a primazia que
pertence somente a Cristo. Fazendo com que muitos caiam em engano,
comprem heresias das mais diversas, proclamem um triunfalismo
alucinado e busquem uma prosperidade estritamente material, fazendo da
fé cristã algo envolto em misticismos, gnosticismos e dualismos sem
qualquer amparo consistente nas Escrituras. Culminando
invariavelmente em um pietismo autocentrado e em um ascetismo baseado
nas mais loucas interpretações do Antigo Testamento, colocando
pesados fardos sobre ombros alheios e incautos para que se abstenham
de coisas que nem a própria Bíblia faz menção.
Esse
tipo de posicionamento tem produzido “cristãos” cheios de si
mesmos, arrogantes, triunfalistas, assentados sobre tronos de justiça
própria e com “poderes” para dar ordens e mais ordens no mundo
espiritual. Essa sandice coloca um jugo muito pesado sobre os ombros
de muitos cristãos sinceros, que cercados por falsa imagem de
“vitória espiritual” se vêm em conflito quando passam pela
primeira tribulação, pelo primeiro problema ou revés da vida, uma
vez que a (mal)dita Teologia da Prosperidade alardeia aos quatro
ventos que cristão de verdade, aquele cheio de fé, não sofre, não
passa necessidades, não sente tristeza, não se abate, não fica em
depressão, não é pobre e sempre alcança todos os objetivos de seu
coração. E caso um cristão esteja enfrentado qualquer uma dessas
aflições da vida, significa que ele está em pecado ou então não
possui fé o suficiente ou ainda está “dando brechas” para o
inimigo!
Esse
é o resultado claro de se colocar o homem em um lugar que não lhe
pertence, de colocá-lo sobre um pedestal de auto-piedade e
auto-justificação, de julgar que o homem seja bom por natureza no
melhor estilo rousseauniano. É o resultado de ignorar a magnitude da
queda e o quanto isso afastou o homem de Deus, e o quanto essa queda
manchou a imagem e semelhança de Deus no homem.
O
ponto em que eu quero chegar é que todo cristão, obrigatoriamente,
deve não só reconhecer sua condição de total dependência de Deus
para tudo, principalmente para se santificar, mas NUNCA subestimar
sua capacidade intrínseca de pecar e cair!
Não
gosto muito de generalizações e estatísticas sem base, mas
certamente em 99% dos casos, aqueles ditos cristãos que fazem
questão de se exibir como os mais “santos” e mais “vitoriosos”
do que os outros são justamente os que escondem os mais vis pecados,
os mais abjetos desejos ocultos, os maiores conflitos internos, os
maiores fracassos pessoais e familiares!
Por
isso, não é de se espantar que cada vez mais frequentemente vejamos
os “super-cristãos”, aqueles que batiam no peito apoiados no
senso de justiça própria, envolvidos em escândalos, em adultérios,
em “saídas do armário” assumindo homossexualismo, em desvios
morais, em negócios escusos, em desestruturações familiares e
outras torpezas mais.
É
por essas e outras que, no tocante à condição humana, eu prefiro
abrir mão de qualquer espécie de farisaísmo e ficar com a posição
bíblica:
“Porque
todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus; Sendo
justificados gratuitamente pela sua graça, pela redenção que há
em Cristo Jesus. Ao qual Deus propôs para propiciação pela fé no
seu sangue, para demonstrar a sua justiça pela remissão dos pecados
dantes cometidos, sob a paciência de Deus; Para demonstração da
sua justiça neste tempo presente, para que ele seja justo e
justificador daquele que tem fé em Jesus” (Romanos
3:23-26)
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* Depravação Total: Rm 1.17-32 / Rm 2.11-12 / Rm 3.12-13 e 23 / Sl 14.2-3 / Sl 51.1-10 / Gn 6.5 / Ef 2.3 / Ef 4.22 / Jr 17.9
* Depravação Total: Rm 1.17-32 / Rm 2.11-12 / Rm 3.12-13 e 23 / Sl 14.2-3 / Sl 51.1-10 / Gn 6.5 / Ef 2.3 / Ef 4.22 / Jr 17.9