Impessoalidade das relações pessoais

Por Paulo Dib

Impessoalidade das relações pessoais. O título lhe parece contraditório, caro leitor? Algo que deveria ser pessoal, mas que é impessoal?

Pois é justamente sobre esse aparente paradoxo, que eu gostaria de lhe convidar a refletir juntamente comigo.

Você com toda certeza já notou como os relacionamentos estão cada vez mais frios e superficiais, independentemente do tipo de relacionamento. Seja um coleguismo, seja uma amizade ou até mesmo um relacionamento familiar. Tudo parece estar frio e cinzento.

Egoísmo, auto suficiência, idolatria do “eu” é o que encontramos.

O homem há muito deixou de ser Teocêntrico e passou a ser antropocêntrico, isso remonta desde os tempos de Gênesis. Não demorou muito e o antropocentrismo se transformou em egocentrismo. 
Todas as atenções voltadas para o “eu”. O que importa é o “eu”. O que “eu” quero. Do jeito que “eu” quero. Na hora em que “eu” quiser. Do jeito que “me” dá prazer. E só.

O outro? O outro que se dane! Não estou preocupado com o outro, o outro não “é eu”.*

Hoje em dia poucas coisas parecem realmente comover o coração da maioria das pessoas, mas, mesmo assim, não passa de comoção, não passa de alguns momentos.

O descaso é tanto e a banalização do sofrimento alheio chegou a tal ponto que as pessoas recebem a notícia do falecimento de alguém conhecido com indiferença, quando não desprezo. 
    - “Fulano de tal, o irmão de Ciclano, morreu.
    - "Nossa! Que coisa não?" - é uma das respostas mais comuns.
Quando há muito interesse o assunto prossegue.
    - “Morreu de quê?
    - "Foi atropelado por uma manada de rinocerontes."
    - "Coitado. Meus pêsames".

E fica por aí.

Você acha que estou exagerando? Bem confesso que a manada de rinocerontes foi um pouco de exagero, talvez uma hipérbole bem exagerada, mas o restante da história infelizmente não. É nitidamente o cumprimento das palavras de Jesus, “o amor de muitos esfriará” (Mt 24.12)

Pior ainda, nós vemos o egocentrismo e o egoísmo dentro do relacionamento que foi criado para ser indissolúvel, o mais íntimo de todos, o casamento. Tão íntimo que Deus mesmo diz que após a união conjugal os dois se tornam uma só carne.

Mas será que têm sido realmente assim os casamentos modernos? Pelas estatísticas dos divórcios eu posso assegurar que não!

Por quê temos tantos casamentos desfeitos atualmente? A resposta é fácil, porque a humanidade simplesmente perdeu o sentido essencial do casamento.

Hoje, aqueles que se casam, o fazem simplesmente para ser felizes. O egocentrismo só faz preocupar com o “eu” e não com o cônjuge.

“Paulo, quer dizer então que eu não tenho o direito de ser feliz em meu casamento?”, você deve estar se perguntando.

Em primeiro lugar eu não disse isso! Você tem todo o direito de ser feliz. O que eu quero enfatizar é que atualmente temos uma inversão de valores muito séria.
A ordem correta dos fatores não é “me caso para ser feliz” e sim, “me caso para fazer o outro feliz”. Isso mesmo, nosso foco tem de estar na felicidade do cônjuge. É uma expressão de amor, e amor verdadeiro é sacrificial.

É justamente aí que está a grande “sacada” que a humanidade perdeu. Se o marido, por exemplo, tem como objetivo a felicidade de sua esposa e não a felicidade própria, com toda certeza ele não somente fará sua esposa feliz, como vai gerar nela uma reciprocidade de objetivos, onde o objetivo da esposa passará a ser fazer o marido feliz. É uma troca onde ambos ganham.

O número de divórcios só cresce porque cada vez menos encontramos pessoas dispostas a dar. Pessoas prontas a receber, isso encontramos aos montes. Viu como a aritmética é simples?

Analisemos a centralidade do evangelho, Cristo e seu amor sacrificial. Ele se deu, se preocupou com o outro. Ele não precisava fazer o que fez! Ele não precisava do homem, assim como não precisa dele hoje, devido à sua transcendência. Jesus, enquanto Deus é soberano e totalmente independentemente de sua criação. Não há nada que a criação possa lhe acrescentar. 

No entanto, a Palavra nos diz que ele se esvaziou de si mesmo e foi achado como servo. Mesmo sendo transcendente ele quis ser imanente. E manifestou isso habitando entre nós, de maneira tão esplêndida que dividiu a história ao meio, antes e depois de Cristo. Na sua imanência demonstrou o seu amor, se identificou com nossa condição humana, sem, contudo, usurpar sua natureza divina.

Jesus não se preocupou com a dor, com o sofrimento e com a humilhação que haveria de passar. Em seus olhos só havia a humanidade que ele tanto amou. Ele se preocupou com o outro.

Infelizmente, mesmo dentro de lares cristãos a centralidade do evangelho e a manifestação do Grande Mandamento parece estar esquecida. O “amar ao próximo como a ti mesmo” parece apenas uma frase bonita, e só. Pais que não gastam tempo com seus filhos. Filhos distantes de seus pais, trancados em um mundinho próprio. Cônjuges que não se amam de fato, apenas convivem.

A família, núcleo central de qualquer sociedade, tem se tornado fria. São estranhos habitando a mesma casa. Um até conhece o outro, mas superficialmente, desconhece e tão pouco se importa com as dores e sofrimentos de seus familiares, apenas dividem o teto.

Como cristãos não podemos aceitar e compactuar com isto. Reflitamos e façamos a diferença! O evangelho que professamos tem que fazer diferença. Se não fizer, temos apenas uma religião, um apanhado de normas de conduta, apenas isso. Pense!



* erro gramatical proposital

2 comentários:

Juliano Alcântara 2 de fevereiro de 2011 às 15:51  

Paulo, hoje é frieza e mais frieza. O termometro do coração dos homens está abaixo de zero, e faz tempo.

O que vc falou das mortes é verdade. Maior exemplo disso é a tragédia no Rio de Janeiro, as pessoas só assistem pela TV, como se fosse um filme, mas no fundo pouco se importam.

Flavia Pereira 5 de fevereiro de 2011 às 04:25  

Triste realidade!!

Mas o egoísmo pode ser vencido, vencido pelo evangelho. como vc disse ele tem que fazer diferença. Qdo uma pessoa é realmente transformada pelo evangelho ela entende que "melhor é dar do que receber"

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Cristão Protestante. Graduado em Tecnologia em Processamento de Dados pela FATEC (Unesp). Hoje trabalho como consultor em negócios imobiliários. Pós-graduado em Especialização em Estudos Teológicos, pela Mackenzie (CPAJ). Falo Inglês muito bem e espanhol porcamente. Sou muito bem casado e tenho dois filhos maravilhosos.

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